O jornal britânico The Daily Telegraph publicou nesta quinta-feira uma reportagem segundo a qual o governo do Irã está ampliando sua parceria com a rede terrorista Al-Qaeda. De acordo com o jornal, o Irã, cada vez mais pressionado por Estados Unidos, Europa e Israel por conta de seu programa nuclear, estaria “procurando expandir a rede de inimigos do Ocidente à qual dá apoio”.
Como resultado, Teerã relaxou as restrições a integrantes da Al-Qaeda que tem sob seu controle e ofereceu financiamento e treinamento para os principais planejadores do grupo terrorista.
O relato do Telegraph se dá menos de uma dia depois de a rede de TV Sky News publicar reportagem afirmando que Irã e Al-Qaeda têm agora uma “relação operacional”. De acordo com a emissora, algumas agências de Inteligência ocidentais são céticas quanto à possível conexão, mas uma prova da preocupação com a aliança é o fato de o governo dos Estados Unidos ter elevado para US$ 10 milhões a recompensa que oferece por informações do sírio Ezedin Abdel Aziz Khalil, conhecido como Yasin al-Suri, líder da Al-Qaeda no Irã. Ainda segundo a Sky News, Al-Suri foi colocado sob “custódia de proteção” pelo governo do Irã depois do anúncio dos EUA.
A Al-Qaeda e o Irã têm uma relação complicada. O Irã, xiita, e a Al-Qaeda, sunita, são teologicamente opostos. Além disso, o Irã manteve e mantém sob prisão domiciliar muitos integrantes da organização terrorista. Isso não impediu a aproximação das duas partes recentemente. Em julho, os Estados Unidos acusaram o Irã, pela primeira vez, de ter ligações com a Al-Qaeda. Como mostrou o jornal The Wall Street Journal, o Irã foi acusado pelos EUA de abrir um corredor para a Al-Qaeda levar armas, dinheiro e homens para suas bases no Afeganistão e no Paquistão.
Um reforço da aliança agora seria bom para os dois lados. O assassinato de Osama Bin Laden, em maio, e de outros chefes da Al-Qaeda em 2011, junto com outros esforços de contraterrorismo liderados pelos Estados Unidos, afetaram muito a organização. Além disso, há temores de que o novo líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, estaria planejando um novo grande ataque ao Ocidente, para provar sua liderança e vingar Bin Laden. Assim, para a Al-Qaeda, o apoio do Irã seria uma sobrevida importante. Para o Irã, a Al-Qaeda seria uma ferramenta para mostrar poder ao Ocidente em um momento de crescente pressão contra seu programa nuclear, visto como bélico por Estados Unidos, Europa e Israel.
Desdobramentos
Nesta semana, três ofensivas contra alvos diplomáticos israelenses – na Geórgia, na Índia e na Tailândia – foram atribuídas por Israel ao Irã, que nega participação nos ataques. Esses ataques, e a possível aliança com a Al-Qaeda, se confirmados, poderiam ser uma resposta do Irã às sanções internacionais, que a cada nova rodada se tornam mais intensas. Especialistas ouvidos pelo jornal The New York Times sobre os ataques desta semana ventilam essa possibilidade:
“Essas são todas facetas da mesma mensagem”, disse Muhammad Sahimi, analista e professor da Universidade do Sul da Califórnia. “O Irã está dizendo: ‘se vocês vão nos bater, vamos bater de volta, e não vamos sacrificar nosso programa nuclear’”. (…) “Acho que é a forma de o Irã dizer: ‘fiquem atentos, podemos atingir vocês’”, disse Mehrzad Boroujerdi, professor de Estudos do Oriente Médio na Universidade Syracuse. “Mas eu duvido que [o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali] Khamenei queira ir até o fim em uma confrontação armada [com Israel]“.
Além da suposta operação terrorista, o Irã tentou responder às sanções com o anúncio oficial, feito na quarta-feira, de que promoveu avanços em seu programa nuclear. Ao mesmo tempo, o país acenou com a possibilidade de retomar os diálogos sobre seu programa nuclear com Alemanha, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. A oferta de diálogo foi confirmada pela chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, na quarta-feira, mas ainda não é possível afirmar se e como a negociação será retomada.
Este é o estilo do Irã – mensagens oficiais divergentes, com tons positivos e negativos para o Ocidente, e um grande trabalho obscuro de contraposição aos interesses ocidentais nos bastidores. Às vésperas de uma eleição parlamentar que colocará frente a frente os grupos políticos liderados por Khamenei e pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, esta característica está ainda mais acentuada. Resta saber se, desta vez, o estilo de ação do Irã e a resposta ocidental não levarão o Oriente Médio a um conflito armado.
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