O conceito de “revolução permanente” islâmico e trotskista
O conceito trotskista de “revolução
permanente” apareceu pela primeira vez na História, devidamente estruturado, no Corão (ou Alcorão, como alguns fazem questão). A “revolução permanente” aparece no Corão através de uma ideologia de “batalha permanente” que se pretende que elimine e erradique os inimigos do Islão [os inimigos da revolução].
A simples existência do infiel (ou seja, aquele que não é muçulmano) é vista pelo Corão como uma “injustiça ontológica” que tem que ser eliminada ao serviço de um imperativo superior.
A própria existência do infiel — o facto de o infiel viver — e do relapso [o traidor] é vista como uma injustiça [Alcorão 5,33]. Podemos traçar aqui um paralelismo cultural e ideológico entre o Islamismo e a esquerda marxista e neo-marxista contemporânea, que inclui o marxismo cultural. Por exemplo, para um apologeta do Bloco de Esquerda ou do Partido Comunista, a minha simples existência — ou a existência de um conservador — é, em si mesma, uma injustiça ontológica que deve ser erradicada da face da Terra.
Porém, se por um lado podemos traçar um paralelismo entre o Islamismo e o marxismo, por outro lado podemos fazer uma referência à situação histórica a que assistimos durante o período do reinado de D. João II, mas principalmente durante o reinado de Manuel I que coincidiu com a governança dos Reis Católicos espanhóis que expulsaram os judeus da Península Ibérica, causando assim o início da decadência dos reinos português e espanhol. Contudo, existe no caso da acção política dos reis católicos uma grande diferença em relação à ideologia da “revolução permanente” do Islão e do marxismo [e do nazismo]: na península ibérica, os judeus foram expulsos pelos católicos, mas não foram mortos ou eliminados; e esta diferença não deve ser escamoteada.
O que aconteceu com a acção dos reis católicos espanhóis em relação aos judeus foi uma deriva ideológica que não se fundamentou nos textos bíblicos.
Por exemplo, no Corão existem 189 referências ou apelos à “morte dos infiéis”, 27 destas de modo imperativo, mas nem uma referência ao amor entre seres humanos; em contraponto, nos Evangelhos encontramos apenas uma referência metafórica à violência religiosa em Mateus 10, 34 : “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada.”
Porém é preciso ter em atenção as características de cada um dos evangelhos sinópticos: pessoalmente, gosto do Evangelho de S. Marcos e principalmente de S. Lucas, mas não tanto de S. Mateus e ainda menos de S. João. Se eu tivesse que recomendar a leitura de um Evangelho a um neomarxista, recomendaria o Evangelho segundo S. Mateus: 1) a salvação é sobretudo a salvação do nosso pecado (o equivalente da auto-crítica revolucionária marxista); 2) não há nenhum ser humano que satisfaça as exigências da condição humana (traduz a exigência do super-homem gnóstico e revolucionário); 3) todos os seres humanos estão implicados em redes econômicas que nos tornam também culpados pela injustiça e exploração no mundo, e pela destruição da natureza (o equivalente da ecologia contemporânea e da obsessão pela igualdade expressa pelo politicamente correcto). De todos os Evangelhos, o Evangelho segundo S. Mateus é o mais “politicamente correcto”.
A “revolução permanente” islâmica elege como principal inimigo interno, a mulher. A relação da ideologia islâmica com a mulher é paradoxal: trata-se de uma “misoginia libertina”: por um lado, a misoginia islâmica é evidente; e por outro lado, a poligenia/poligamia islâmica introduz um traço libertino a essa mesma misoginia. Ora este fenómeno de “misoginia libertina” paradigmática não aconteceu na Europa medieval cristã, tal como escrevi aqui; e, por outro lado, essa misoginia libertina afirmou-se na Europa, como paradigma cultural, com o Iluminismo e principalmente durante o século XIX.
Essa “misoginia libertina” é também um dos traços culturais da nossa cultura contemporânea ocidental marcada pelo marxismo cultural e pela revolução sexual — embora assente em paradigmas éticos diferentes — e que justifica, por exemplo, o aborto como sendo do interesse da mulher, assim como o Islamismo justifica a repressão da expressão do feminino como sendo do interesse da própria mulher.
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