Uma das estratégias mais executadas por neo ateístas é tentar vender a idéia de que a religião não tem influência alguma no estabelecimento de nossa moral.
Dawkins até tentou apelar ao gene egoísta para explicar a nossa moralidade, com resultados patéticos.
Na totalidade das vezes em que eles tentam executar a estratégia, o que se nota é um empreendimento bizarro com foco na diminuição do valor da religião, maquiagem do significado da moral e uso de testes suspeitos para tentar mostrar que todos “são morais” independentemente de religião.
Como mostrarei aqui, essa tentativa é facilmente desmascarável.
Recentemente, alguns blogs ateus estão divulgando a seguinte matéria: “Moralidade independe de religião, diz estudo”.
Veja o estudo publicado no blog da Irmandade do Calvário com o texto, que fala de um estudo publicado na revista Trends in Cognitive Sciences.
Mesmo que eu não tenha a intenção aqui de dizer que é impossível um ateu ter moral similar a de um religioso, é fato de que não só a matéria, como o próprio artigo se baseiam em uma série de estratagemas recheados de desonestidade intelectual e principalmente fraudes.
O Vested Interest
A primeira suspeita já vem de um dos envolvidos na publicação do artigo, Marc Hauser, que aparentemente possui alinhamento com as idéias de Daniel Dennett e Richard Dawkins.
Quanto a seu parceiro na pesquisa, Ilkka Pyysiäinen, não obtive maiores informações a respeito de um possível Vested Interest. Este fica evidente ao menos em Hauser.
Para qualquer auditor, motivo suficiente para iniciar a investigação.
Sendo que o vested interest de Hauser está identificado, basta então procurarmos pelas fraudes conceituais e intelectuais, principalmente aquelas que já ficam mais aparentes.
A fraude da falsa definição de religião
A primeira das fraudes intelectuais é vista logo no começo do texto, que compara a crença em Deus com a religião em si, o que fica evidente quando é feita referência à ela como “O fato de que todas as sociedades humanas conhecidas acreditam (ou acreditavam) em algum tipo de divindade – seja ela Deus, Alá, Zeus, o Sol, a Montanha ou espíritos da floresta”.
O fenômeno religioso, que poderia ser chamado de epifenômeno, transcende em muito a crença em Deus. A própria tentativa de comparar a crença em espíritos da floresta com a crença em Deus (que é definido por abordagens metafísicas e filosóficas), já é outra demonstração de uma absoluta falta de senso de proporções.
Falta de senso de proporções, aliás, que parece mostrar que o dircurso neo ateísta, em sua sanha por falsificar as informações do mundo real e da história, compromete grande parte de suas análises.
Hauser, conforme previsto pela análise do Vested Interest, tenta também um discurso semelhante ao de Richard Dawkins em “Deus, Um Delírio”.
É aí então que temos a segunda grande fraude.
A fraude da falsa definição de moral
A aposta da dupla seria o de que a religião seria apenas um subproduto de outras características evolutivas que favorecessem um determinado tipo de comportamento social, independente de crenças religiosas. Esse comportamento incluiria a promoção da moralidade e a cooperação entre indivíduos não aparentados de uma população.
Os autores escrevem: “A cooperação é possível graças a um conjunto de mecanismos mentais que não são específicos da religião. Julgamentos morais dependem desses mecanismos e parecem operar independentemente da formação religiosa individual [...] A religião é um conjunto de ideias que sobrevive na transmissão cultural porque parasita efetivamente outras estruturas cognitivas evoluídas.”
Aí segue o terrível problema da alegação, pois cooperação entre não-parentes existe realmente em qualquer espécie animal, até nas formigas. Entre gangues de marginais (não necessariamente aparentados), há também cooperação, por interesse. Desta forma, mais um exemplo de que a abordagem visando a cooperação básica não passa de uma falácia do red herring, parte integrante aliás da maioria das abordagens da psicologia evolutiva.
Como a argumentação em prol da cooperação só funciona com um enrolation dos mais pueris, Hauser parte para outra tentativa, que é dizer que “comportamentos morais” são oriundos de todos, independente de religião.
Antes disso, ele ainda apela ao rótulo odioso, ao dizer que a religião “fornece apenas regras locais para casos muito específicos” de dilemas morais, como posições sobre o aborto ou a eutanásia.
O estratagema é simples. Como uma parte da população poderia ficar incomodada com o tema aborto ou eutanásia, ele associa a religião apenas a eles, mas não o resto, tentando jogar a “galera” contra a religião. Mas em nenhum momento de seu artigo, ele apresenta uma evidência desta associação.
A cereja do bolo, entretanto, é quando os “pesquisadores” afirmam que as questões de caráter mais abstrato são definidas com base numa moralidade intuitiva, independente de religião.
O divertido é que o “caráter é tão abstrato” que Hauser não conseguiu definir quais são os fatores que a definiriam de tal forma, e além de tudo o exemplo de cooperação é básico demais. Será que os outros “dilemas morais” é que definiriam isso? Até seria possível, mas como sempre Hauser trata de falsos dilemas morais, que nada tem a ver realmente com testes empíricos de dilemas morais.
Uma forma de mostrar a fraude é investigar todas as vezes em que tipos assim dizem que “aha, eles são tão morais quanto os que defendem os religiosos”.
Geralmente, eles pegam exemplos básicos de comportamentos considerados morais, como por exemplo dar lugar à um idoso no assento do metrô, e já rotulam “encontramos a origem da moral”.
Confundem eles atitudes de empatia básica com “a moral” em si.
Um erro de tamanha magnitude já é suficiente não só para desqualificá-los como cientistas, mas principalmente como seres humanos capazes de discutir a moral.
Como tudo que é alegado por Hauser e seu amigo não passa pelo menor exame cético, a conclusão não poderia ser menos fraudulenta, e a evidência de que o texto, do início ao fim é inválido vem ao final, quando os “experimentos” de moral são citados.
A fraude do falso “experimento” da moral
Como vimos, no texto dos autores neo ateus, se até o momento não há sequer uma discussão de moral em questão, como então ele poderia definir que estudou a religião no aspecto da análise moral?
O resumo do estratagema é o seguinte:
(a) Hauser e patota reduzem a religião à crença em Deus
(b) Fingem que aquilo que se fala de valores religiosos seriam na verdade a cooperação básica entre não-parentes e falsos dilemas morais.
(c) Dizem então que se religião é associada à qualquer moral, é então associada aos itens em (b) basicamente
(d) O itens em (b) são encontrados em qualquer espécie animal, especiamente os bonobos, e em qualquer interação humana
(e) Logo, religião não está associada com a moral.
Como se vê, há uma série de manipulações semânticas que alguns neo ateus dentre os adeptos da psicologia evolutiva fazem para fingir que explicaram algo e tentar tirar algo de cena (no caso, a religião).
Mas por que os estudos de dilemas morais não servem?
O próprio texto reconhece que as evidências alegadas por Hauser são “estudos em que pessoas são convidadas a opinar sobre dilemas morais hipotéticos mostram que o padrão de julgamento de religiosos é igual ao de pessoas sem religião ou ateias”.
Todos esses “estudos” são 100% inúteis, pois não testam o comportamento.
Obviamente, que as pessoas respondendo aos questionários tendem a responder àquilo que aparentemente é mais correto no que está estabelecido como paradigma vigente para a população.
Outro elemento que falseia o experimento é o fato de que muitos neo ateus tentam dissociar a religião da moral, então muitos ateus poderiam simular suas respostas para “aparentarem” moral similar aos outros.
Para evitar esse tipo de manipulação, o importante é testar o comportamento de povos religiosos e povos ateus em relação à situações consideradas diante de padrões objetivos e aceitos de moral. Mas a avaliação não pode ser por questionário, e sim por comportamento.
Um exemplo, em uma sociedade em que 90% das pessoas sejam religiosas, pode existir um questionário em que praticamente todo mundo, ateu ou teísta, responda que mentir é errado. Isso não prova que as duas partes possuem a mesma moral, mas sim que respondem o questionário dando a resposta mais agradável.
Uma forma mais correta e científica de investigação do assunto
O ideal é usar países como testes empíricos.
Por exemplo, inversões completas de moral, como ocorreram em vários países comunistas, normalmente ocorreriam com tanta facilidade em países teístas?
Pelo visto, a ausência da moral teísta causou danos terríveis na Rússia, China e Cambodja.
Aliás, tornou-se uma prioridade para esse tipo de governo a eliminação da religião. E por qual motivo? Por que sem a religião, valores morais sólidos não seriam estabelecidos.
Mas e no caso de ateus em países dominados por uma moral inspirada na moral religiosa? Aí fica mais difícil que a população como um todo inverta os valores, inclusive os ateus, pois existem valores morais absolutos pelos quais as atitudes são avaliadas.
Nesse ponto, seria possível que ateus agissem de forma moralmente aceitável, pois ele estará se habituando aos hábitos definidos pela cultura da maioria.
A avaliação mostra que a análise dos eventos ocorridos em países comunistas, em comparação com os eventos ocorridos em países não-comunistas, nos orienta a seguinte hipótese, muito forte: sem a religião, não só não há uma moral absoluta, como também não há sequer uma base em cima da qual julgar qualquer tipo de ato, então fica valendo o “tudo é permitido”. Um dos resultados são os genocídios que todos conhecem.
Algum ateu poderia questionar essa hipótese, dizendo que comunismo não é o mesmo que ateísmo.
Mas o comunismo já é uma ideologia que, para ser aceita, depende da RECUSA dos valores morais da religião, pois o comunismo implica na estratégia “Robin Hood”, que é fingir que se rouba dos ricos para dar aos pobres. Só que no final a população toda fica na pobreza, e os “líderes da revolução” possuem vida nababesca (ex. Stalin, Castro, Mao, etc.)
Uma das maiores aberrações da humanidade é o comunismo, similar ao nazismo. O comunismo depende da IRRELIGIÃO.
Não fosse assim, por que governos comunistas gastariam tanto esforço em eliminar a religião? A simples existência da religião já é o suficiente para assustar qualquer sistema político baseado em inversão de valores, dos quais o comunismo, assim como o nazismo, são os maiores representantes.
Conclusão
O que vimos acima mostra que sempre que um neo ateu apresenta algum material dizendo “olha, provamos que religião não leva à moral”, é bom suspeitar. O estudo trazido como evidência, de uma dupla de estudiosos que defendiam a teoria da moral independente de religião já foi qualificado de início como exemplo de vested interest, pelo perfil de um de seus estudiosos. Não era o suficiente para desqualificá-lo, claro, mas sim um justificador para o início da investigação. Em seguida, os erros já esperados ocorreram, manifestados por 3 fraudes: falsa definição de religião, falsa definição de moral, e, principalmente, experimentos insatisfatórios. Foi mostrado, ao final, como deveria ser um experimento para estudar tal tipo de assunto, e é baseado na análise de evidências históricas, da mesma forma que se estudam as histórias evolutivas das espécies.
Nesse caso, temos os países comunistas como um ambiente de teste excelente de doutrinas resultantes da irreligião. Temos também uma explicação satisfatória para o motivo pelo qual os governos comunistas lutam tanto contra a religião, pois com elas há valores morais absolutos em cima dos quais os atos serão julgados. O comunismo teria vida difícil com a mera existência desse cenário. A única coisa que um neo ateu poderia alegar é que ele possivelmente terá atitudes mais ou menos moralmente aceitáveis tanto quanto um religioso. Isso é realmente possivel, mas desde que ele viva em um país de cultura religiosa. Nesse caso, ele irá assimilar os hábitos da maioria religiosa. Ou seja, para que uma população vivencie uma moralidade nos mesmos tons que a conhecemos, é fundamental a existência da religião.